terça-feira, maio 15, 2007

ALICERCE DE CARNE

(Baixio Das Bestas - Cláudio Assis)
Vão dizer que Cláudio Assis é insuportável! E quem disse que suas idéias negam a violência e transgressão? Muito da exposição na janela retangular que exibe o Baixio Das Bestas, é impactante, mas por gentileza, estamos em condições "demoniocratas" e não é tempo de encobri-la. Estilizar os fatos não é um método em seus trabalhos, se for para fazer cinema, será para causar brutalmente; sem formalismo; sem moralismo; cinema que a portaria pode fechar com classificações infanto-juvenis, mas que até pai e mãe vão chorar pelo choque se suportarem a sessão até o fim.
Manchetes jornalísticas foram suporte de idéias?
Nota do editor: Garota de 16 anos nua em exposição nas piores esquinas... Estupro: a descoberta para o êxtase... Uma idéia na cabeça e uma arma na mão, o segredo para o sucesso... cinematográfico?
Arquitetura da Degradação
A história gira em torno de uma pequena cidade na Zona da Mata de Pernambuco, cidade que se submete (para existir) ao conceito de empreendimento explorativo em cima da cana-de-açúcar. Diante da degradação ambiental, a situação se estende gerando conseqüência na vida provinciana da sociedade ali existente. Uma jovem, Auxiliadora com seus 16 anos sofre com a exploração de seu avô, que a mantém prisioneira a seus métodos, e, que tem ao anoitecer o corpo nu exposto a caminhoneiros a troco de míseros trocados mediados ao consumo do explorador. Nas redondesas o bordel de Dona Margarida, onde hospedam-se as prostitutas que buscam a vida na facilidade do lucro, mas sofrem as conseqüências bestiais do poder masculino expostos principalmente na pele de Everardo e Cícero. A trama se desenvolve com essa e outras histórias, interligando-se, moldadas na rotina do povo local, a origem da situação e o regionalismo da tradição do Maracatu como estrutura leve no pano de fundo.
Dentro do universo amoral, a mente não condena, os personagens assumem ações corporais, existe poder investido a nitro no universo dos protagonistas masculinos, as mulheres atingem uma outra existência, significante e dolorosa pela pressão exercida na formação de cadeia alimentar, os fatos fazem parte de um pesadelo explosivo e este peso redundante são as rédeas da visão dirigida de Cláudio Assis. Colidir situações na estrutura humanista, demonstra que seu cinema é de sobrevivência, onde matar não é tão eficiente quanto torturar psico-fisicamente.
Baixio = Nível

(Dúvidas para hora vaga: uma fossa ou um túmulo)
Perverso, injusto, massificante; existe monotonia em prender protagonistas com objetivos semelhantes, mas não há falta de informação e sobra coragem em sua narração, é deslumbrante o "mostrar e não mostrar", essa é sua estética, isso é cinema brasileiro feito no Brasil, tudo poderia ser gratuito, mas não, essa não é sua função. Ele prolonga, corta, movimenta, ilumina, esconde, cria um ritmo que forma uma tensão duradoura; se o seu cinema exalasse cheiro, o efeito seria mais potente, com o prazeroso odor da carne em chamas.
Adendo:
¿Quersernacionalista? ¿Quersersabichão? Levanta a bunda da cadeira e vai lamber asfalto com gosto de fome plástica, látex é quase tinta e asfalto não é Coca-Cola! Geração e formação enfezada em fezes!
Peso de um ódio
Julgamentos não irão faltar para polemizar o filme que já é polêmico por criação, a bomba está lançada e agora é o momento da definição: Quem pode mais, chora menos!.

6 comentários:

f f f disse...

É... o texto é normal (formatação e narrativa) quando o tema é extremo.

Escreve que é uma beleza esse menino.

Abraço

Ronald Perrone disse...

É, dessa vez eu consegui entender o texto pelo menos... mas não vi o filme.. .aliás, não tenho visto esses filmes brasileiros que vem sendo lançado ultimamente...
abraços e não esqueça do Cineart!

urina disse...

Hoje está de fácil compreensão, mas não deixa de ser brutal, o filme pede isso, sem que perca a originalidade! Graças ao Criador!
Um aviso:
Ronald, Japoneis e Massa que se comprime nesse Blog, vários e vários leitores... mas demora... assistam, se surgir a oportunidade assistam novamente, é uma grande ficha de compensação: agressivo, subversivo, sem salvação!
É o que digo: digno de valorização, só não valorize depois de perder!
É nóis!

Anônimo disse...

Bom vê-lo de volta à ativa, Urina! Ótimo texto sobre o Baixio das Bestas.
Também escrevi sobre o filme, depois dá uma olhada.
Um abraço!

Anônimo disse...

Adorei o texto,
beijos
Fada

urina disse...

Fala Sérgio, filme pesadíssimo, irá fazer o pessoal vaiar, até chegar ao ponto da descoberta questionante: uma ficção totalmente real? Considero um dos melhores do ano também.
E Camila, agora publicou logada, vou visitar seu blog, acompanhar seus textos, quando você quiser fazer as mudanças me informe que te ajudo.
Fico agradecido por terem gostado do texto, abraços e beijos!