sexta-feira, abril 15, 2022

ARQUEOLOGIA RAREFEITA

(Viagem Ao Topo Da Terra)
Não fosse a fórmula estrutural em contar a história de Habu Joji, a partir de documentos, notícias de época e relatos, talvez o impacto emocional do longa-metragem “Viagem ao Topo da Terra” fosse outro.
A animação em técnicas tradicionais adaptada do mangá de Jiro Taniguchi a partir de um romance de Baku Yumemakura, dirigida por Patrick Imbert em uma produção conjunta entre Luxemburgo e França, traz ao público a história de Fukamachi e suas investigações sobre as aventuras de Habu, um alpinista misterioso e recluso.
Fukamachi um fotojornalista entusiasmado pelas primeiras expedições registradas ao Monte Everest chega ao nome de Habu em uma situação inesperada em que a câmera de Mallory, o primeiro e lendário alpinista do Monte Everest, é ofertada 70 anos depois, sem muita cerimônia,  em um bar de Kathmandu. E é a partir dessa premissa que Fukamachi determina aquele que será o objeto, ou seja, o protagonista da matéria de sua vida. Obsessivo, Fukamachi avança com as investigações sobre o paradeiro de Habu, e quanto mais avança, maior o protagonista de sua pesquisa fica.
Com uma história realista e um início intercalado entre atos do presente e flashbacks, a obra trata de ações pautadas pela realidade dos praticantes de alpinismo. Com uma montagem que não pende ao exagero, por vezes a narrativa pode soar didática, mas constrói personagens cativantes. Mesmo que o nome da obra “Le sommet des dieux” em tradução literal “O cume dos Deuses” utilize o termo “deuses” em seu nome, a palavra soa como um contraponto ao limite do ser humano.
Visualmente a adaptação preza pelas formas e contornos presentes no traço de Jiro Taniguchi, com concepts de personagens que remetem aos desenvolvidos no mangá, porém, com o advento da simplificação, abdicando do uso das hashuras e texturas, remoção muito necessária para que facilite o trabalho dos animadores.
Apesar da grandiosidade e amplidão dos espaços físicos pelos cenários inóspitos, os personagens estão isolados em seu objetivos. E essa contradição entre o visual e o psicológico trabalham muito bem a dramaticidade e amplificam a ligação emocional a qual os personagens vivenciam.
Afirmações são difíceis de cravar, mas dúvidas não. E fica no ar: qual a linha limite que separa seres humanos de deuses?