segunda-feira, outubro 05, 2009

TORMENTA

(Brown Bunny - Vincent Gallo)
Se para potencializar um filme é preciso investimento financeiro, este não é o mesmo que determina a concretização do "exemplo" para carreira de um diretor.
Sem o artifício de uma vasta disponibilidade de moeda corrente ou mesmo do patrocínio dos torturantes produtores que insignificam o direito de dirigir, o diretor cinematográfico tem em suas mãos a responsabilidade de apresentar caráter artístico em qualquer situação.
Movimentado pela prudência, a obtenção pelos experimentos somente surge nesse jogo de cartas marcadas com a conclusão definitiva da demência ilusória, ou em outras palavras, com o filme em si.
(base da independência)
Um piloto de motociclismo inicia uma corrida, uma corrida que ultrapassa os limites do asfalto. Sua mente em curto-circuito impossibilita encontrar um perímetro de conclusão, seu objetivo é a fuga, mas sua única alternativa é percorrer o caminho da imperfeição. Glorificar com lágrimas o exorcismo do corpo e aguentar a purgante aceitação do destino na alma.
Uma quantidade de mulheres fazem de Bud Clay um afetuoso, mas o ritmo lento ao encontrar essas paixões descartáveis não tocam na essência de seus sentimentos, são situações rasas e relações vazias que ecoam na tela.
É notável um ajuste arriscado entre o tempo vivencial e o tempo mecânico, pois a suavidade na construção das sequências ajustam a percepção do expectador, tanto que o desdobramento das sequências clama um sentido, uma estrutura palpável para a redenção do personagem, mas o torturante vazio é que se mantém no espaço.
A forma narrativa desempenhada pela direção de Vincent Gallo é conhecedora da tradição cinematográfica, mas é uma narrativa que deixa de flertar com a linguagem tradicional; é cinema que convive com a estética contemporânea, mas evita o relacionamento direto com ela. Pois ela está a margem da linguagem, o valor do experimentalismo é maior que a facilidade da narrativa estabelecida no cinema industrial e hoje é tido como algo habitual.
Brown Bunny além da experiência experimental cinematográfica é um dos resultados da compreensão do sentimento humano, do ponto de maturidade impossível de se disvincular do corpo, da aceitação do destino; é a presença da atitude impensável refletida na fragilidade humana. Simplesmente é cinema para sentir.

quinta-feira, julho 30, 2009

INTErFERênCia. na FREQUênCia.

(Uma homenagem póstuma)
Manuel... homem sábio e... semeou conhecimento... Tim, o Manuel que conheci pode ser sábio, mas a arrogância é superior, só não maior que a pura competência, conhecimento semeado à base da Wikipédia. De uma, duas... copiou e plagiou.
Abaixo a relíquia, um papel velho, texto mutilado em dois pedaços pela Bic Vermelha... sangra folha...
Manuel: Como desejo que todos se dêem bem, o mínimo é 7,0, por bondade de minha parte.

("atitude" do "homem sábio" reflete na percepção e no julgamento)
Adendo: Duas frases agradáveis "por esmola!" e "parece texto copiado não é?", infinitamente um arraso.
Um texto copiado
(O vampiro de Curitiba – Dalton Trevisan)
No decorrer do tempo as lembranças transformam-se em um emaranhado de informações imprecisas sem a associação definida a uma data ou local para se situar a origem dos fatos. Com “O vampiro de Curitiba” uma obra que apesar de apontar o local de desenvolvimento da história e tratar de uma formulação em episódios, Dalton Trevisan cria esse sentido.
Dividido em quinze contos, Trevisan narra as andanças do anti-herói Nelsinho, um pervertido sexual que determina a ação a partir da subjetividade do seu desejo sexual, transgredindo valores éticos e morais, uma narrativa que apesar de se assemelhar a uma obra documental, trata-se de uma ficção que transpõe os limites do comportamento humano.
Utilizando uma linguagem coloquial Trevisan constrói várias histórias que não pretende ser cognoscíveis, tanto que a todo momento ele traz a quebra da barreira do tempo, abusando do raciocínio perverso de Nelsinho, narrativas próximo ao confessional que entoa à subversão dos conceitos, desviando de qualquer montagem convencional, eliminando qualquer elemento que traga a avaliação do ato de uma forma bidirecional. Isso não torna a obra isenta de emoções, porém esta carga está fixa ao personagem principal. E mesmo com Nelsinho como protagonista, existe em todos os episódios uma personagem feminina que torna-se o trilho do desenvolvimento e a mediadora da identificação popular.
Existe uma sincronia que combina as ações dentro do conto, porém ao ultrapassar a história de um conto a outro sua narrativa torna-se descontínua, privilegiando a desordem e o único relacionamento existente que permanece é o da conduta marginal.
É possível traçar uma analogia entre outras obras existentes, como por exemplo “Dublinenses” de James Joyce que também é dividia em contos, mas em “O vampiro de Curitiba”, as idéias psicológicas estão sintetizadas; não existe uma fragilidade com um clima romanesco. A obra mantém uma centralização à procura de momentos importantes, ao detalhamento profundo da perspectiva do imaginário irônico e perverso de Nelsinho.
Mesmo com sua publicação em 1965, “O vampiro de Curitiba” mantém-se atual e fiel ao gênero de Dalton Trevisan, sua forma transgressora apesar de simples ainda é um dos maiores expoentes na literatura mundial.