domingo, setembro 16, 2007

CONTRIÇÃO

(Santiago - João Moreira Salles)
Tadeu: 11 + 12 + 13, testando.
Personagem 1: A vida é tão triste!
Personagem 2: Sim, ha... ha... ha... a vida é muito triste!
Se existe um filme que explicitamente mostra a forma de soberania de um diretor para conseguir o domínio e preencher com imposições as suas idéias, este filme é "Santiago", uma obra recente que melhor se enquadra como expoente de tal idealismo cinematográfico.

A etapa inicial desse documentário se projetou em 1992, João Moreira Salles naquele instante involuntariamente desempenhou um estudo filmado sobre a autoridade e sua influência definida pelo tempo de convívio; seu objetivo: filmar os depoimentos do mordomo argentino Santiago Badariotti Merlo, um empregado que cumpriu essa função por cerca de 30 anos na casa da família Moreira Salles e que morreu alguns anos após as fillmagens.
Com os sentidos aguçados em 2005, J. M. Salles retoma todo o material/documento/arquivo conquistado naquele período, e assim, projeta sua crítica ao descoberto: Santiago era isso...; Santiago era aquilo...; ...esse é Santiago. A narração fora de campo foca este ponto utilizando a imagem e a participação ativa por trás das câmeras, criando uma nova interpretação, até chegar ao raciocínio definidor da maturidade do diretor, a autocrítica.
Santiago Vs. J. M. Salles

[Soberano (diferente) desumanO]
O início do filme demonstra o processo de recordação (três fotos: a entrada da casa; a cama do quarto semi-encoberta pela escuridão/semi-iluminada pela luz, e; uma cadeira na sala vazia), a história expressa confiança pelo narrador criando uma narrativa dialoguista esclarecedora, mas a arte seqüencial desloca a percepção em um processo de imagem/corte-seco/imagem e fica claro que Santiago, é maior que a captação sensorial de J. M. Salles naquele momento (filmagem), propondo então, explicações com imagens inexistentes neste momento (montagem).
A visão de J. M. Salles se ampliou ao analisar o inconcluso e a sua convicção de 13 anos atrás se tornou outra ao retomar o projeto. Ao desmodular o seu objetivo roteirístico, as inflexões criaram sinais indefinidos no conteúdo do filme, fazendo da narrativa do filme um semi-confessionário do narrador.
Intitulado de forma honrosa, "Santiago" pode parecer somente uma história simplória de Santiago (o humano), mas não é isso, pois, por mais confiança que J. M. Salles (o humano) coloque no filme em seqüências explicativas, mais o protagonista torna-se um signo e mais descobrimos sobre o processo de evolução do diretor, tanto em relação a sua vida quanto em relação a sua carreira profissional. Se J. M. Salles definiu um limite, agora que tomou consciência e desconsiderou os julgamentos que o levaram a subestimar Santiago, esse ultrapassou qualquer demarcação com a conclusão deste documento.

2 comentários:

krelid disse...

Um J.M.Salles na chapa.
Imagino se aquelas cenas de boxe fossem realmente usadas, graças aos deuses, não tivemos que ver aquilo.

urina disse...

Tu tem razão rapaz!
Pelo menos o tempo serviu como salva-vidas!