quinta-feira, setembro 17, 2015

ISMAIL XAVIER: O VIDEOCLIPE

Entrevista por Eugênio Puppo e Arthur Autran*

O clipe era uma espécie de material de divulgação para vender um disco. A Tower Records tinha lá um monitor, o cara entrava na loja e assistia ao clipe. Era uma forma de fazer publicidade. Claro que depois o clipe foi ganhando autonomia e virando um gênero artístico como outro qualquer. Mas ele tem essa presença da música, que é um parâmetro, uma música que dura um certo tanto, que tem tal e tal característica e você vai montar um universo visual que tenha a ver com aquela música e com os intérpretes. O interessante do clipe é justamente esse parâmetro claro: um solo a partir do qual você vai trabalhar, a música. Por isso a possibilidade de invenção é muito grande, porque tudo que você fizer é recuperado pela presença da música. Você pode trabalhar com um imaginário totalmente heterogêneo, com os planos mais inusitados, com os ritmos mais inusitados e mutáveis, com mudanças de textura, pode fazer o que quiser porque tem a música como âncora. Ao assistir a um clipe, você ainda pode esquecer a âncora e ficar mais sensível a essa montagem presente na originalidade visual - e isso pode inspirar muita gente, como de fato está.
Radiohead - Street Spirit (Jonathan Glazer)
Claro que é um avanço, é uma ampliação de repertório, isso expande o repertório da cultura visual e com consequências claras para todos os outros gêneros. Uma das coisas que o clipe nos ensina é a força com que a âncora musical, no cinema, ajuda a própria aceitabilidade de determinadas relações visuais. A gente vê o quanto a nossa conexão com as imagens muda num filme silencioso, visto com ou sem acompanhamento musical; o quanto a música ajuda a dar receptividade às imagens.

Trecho extraído do Livro/Catálogo "A Montagem no Cinema" da mostra realizada pela Heco Produções em parceria com o CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil.