sábado, junho 16, 2007

ALÍVIO NO JARDIM DOS DEZmerecidos

(Estamira - Marcos Prado)
Urina: Segue o texto, a ponte entre o filme e o expectador, caso esteja incompreensível, me ensine a criar coerência dentro da anomalia do "Complexo de Édipo" de obsessões hereditárias, pois, ultimamente estou atormentado.
Tadeu: Com a boca fechada, não vomito palavras, explodo!
Estamira: A minha missão, além d'eu ser Estamira, é revelar a verdade...
Abstracionismo:
Antes de qualquer coisa, é necessário apontar dois adjetivos do precário que originou dois movimentos cinematográficos nacionais "...da Fome" e "...do Lixo". A considerar como criação, surgiram a partir da análise crítica sobre o universo social e político da vivência momentânea, a tela cinematográfica espelhava as inquietações pertencentes à grande parte dos expectadores, não com respostas, mas como apresentação de formas variadas: dramática, agressiva, subversiva, potencialmente legítima e com o seu conteúdo questionável; muitas delas ligando conteúdo a estética.
Temos o documentário...
E surgindo da estética, da plasticidade da composição de suas fotos, que Marcos Prado se interessou pelo local rejeitado ao qual todos contribuem para o seu "crescimento ao inverso", e, descobriu Estamira, essa a quem o documentário traz a frente em gênero/número/grau.
"Trocadilo", não te esqueço

(115 minutos:Tempo de Duração/BM 77,896:Conteúdo)
Estamira é uma senhora de 63 anos que mantém uma ruptura de contato com o que se diz "real", tem sua moradia, mas transgride com a relação proprietário/propriedade, e, faz do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho seu reduto. Por 20 anos (período que completou em meados a formulação do documentário) mantém sua forma de "viver", revirando e refazendo o processo de sobrevivência a cada instante, sem deixar o local ao qual tem o prazer de trabalhar.
Com o direito de falar e ninguém para ouvir, Estamira tem um foco, ao qual dirige seu desgosto incontrolável pela alienação da sociedade e pelo questionamento existencial, Deus. Nesta posição irreal, com pensamento racional entre o cosmo, os astros e o desconhecido, sua intolerância torna-se a válvula de escape e seu discurso filosófico, está além dos limites da total compreensão. O momento se aplica ao caos de onde emerge a filosofia/poesia de Estamira, e, não é o disfarce modular da captação generalizada que manterá entendimento, muito menos habilitar nos padrões retangulares da imagem reflética uma camisa de força para controlar o incontrolável.
Estamira em "Estamira", não contracena; atuar frente as câmeras da forma que o filme se dispõe em sua total composição, seqüência a seqüência, não apresenta o nível de espontaneidade palpável ali disponível. O sistema orgânico de Estamira, mantém uma corrente lúcida a favor da contra-cena, seu existencialismo exposto é habitual, sem exibicionismo disposto a qualquer representação alegórica ou manipulável.
Ao dirigir este documentário, Marcos Prado, formula uma estrutura narrativa que evita tornar-se cognoscível, a personificação das estéticas (fome/lixo) estão transpostas na dimensão de sua lente dirigida que mostra na profundidade o desenvolvimento do personagem/ambiente, captando no espaço o impacto tecnológico/apocalíptico dentro do presente, onde os métodos de acordo com a veracidade apresentável mostra o futuro que ninguém pretende aceitar.
Toda transformação em relação ao andamento da cronologia do tempo dentro do filme é de extrema oposição a consciência humana habitual, em seu início, a imagem surge do "inteligível" se desfazendo, demonstrando a degradação universal, mas ao passo que o tempo mantém seu andamento, a imagem torna-se límpida acarretando o futuro caminho do insuportável que, a profecia do "Profeta da Fome" de Maurice Capovilla mencionava na aparência dentro da ficção, mas em "Estamira" torna-se real, um documento que é simplesmente a "...verdade!".
Cuidado VIRA-LATAS Neuróticos:
Evite a racionalidade da sua consciência predatória e enferma, e; antes de reclamar do "...só ovo?!", coma este texto depois de defecado e peça mais, porque o futuro a Deus pertence...